Travestilidade e forma jurídica: contradições e determinações no capitalismo

Autores/as

  • Maria Eduarda Antunes Costa Universidade Estadual do Norte do Paraná
  • Diogo Mariano Carvalho Oliveira Universidade Estadual do Norte do Paraná / Faculdade Estácio de Sá de Ourinhos https://orcid.org/0000-0002-2299-9500

Palabras clave:

Travestilidade, Subjetividade jurídica, Forma jurídica

Resumen

O presente artigo investiga a constituição histórica da subjetividade jurídica sob uma perspectiva marxista, com ênfase na exclusão da subjetividade travesti. A partir de uma perspectiva marxista, busca-se compreender como o modo de produção capitalista consolidou uma forma de subjetividade jurídica fundada na cisão binária de gênero e na heterocisnormatividade. Mediante a crítica ao valor e à forma jurídica, evidencia-se como subjetividades dissidentes, como a travestilidade, são sistematicamente marginalizadas e lançadas à precariedade material e social. Contudo, ao desestabilizarem a binaridade de gênero, as travestis tensionam os limites da subjetividade requerida pelo capital, insurgindo-se contra suas normas e dispositivos de exclusão. Nesse sentido, conclui-se que, embora o reconhecimento jurídico de diferentes subjetividades represente um avanço discursivo, ele permanece limitado a um sistema que subsume as diferenças à lógica totalizante do valor.

Biografía del autor/a

Maria Eduarda Antunes Costa, Universidade Estadual do Norte do Paraná

Mestranda em Ciência Jurídica no Programa de Pós Graduação da Universidade Estadual do Norte do Paraná (2023-2025). Atualmente, é residente jurídica do Ministério Público do Estado do Paraná, no município de Bandeirantes-PR. Bacharela em Direito pela Universidade Estadual do Norte do Paraná (2022), tendo apresentado o Trabalho de Conclusão de Curso "Forma jurídica, valor-clivagem e sistema penal: questões para o(s) feminismo(s)". Integrante do Grupo de Pesquisa Eficácia dos Direitos Fundamentais no Brasil, coordenado pelo Professor Vladimir Brega, do Programa de Pós-Graduação em Ciência Jurídica da Universidade Estadual do Norte do Paraná. Foi estagiária de pós-graduação na Defensoria Pública do Estado do Paraná, no Município de Cornélio Procópio (2023-2024). Foi estagiária de graduação do Ministério Público do Estado do Paraná (2021-2023). Foi bolsista da Fundação Araucária no Projeto de Extensão "Escritório Modelo Itinerante UENP - Acesso à justiça na Cadeia Pública de Jacarezinho-PR", vinculado ao Núcleo de Prática Jurídica da Universidade Estadual do Norte do Paraná (2020-2021) e servidora voluntária do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná no Cartório Criminal da Comarca de Jacarezinho-PR e no gabinete do Magistrado da Vara Criminal da Comarca de Jacarezinho-PR (2019-2020). Pesquisadora nas áreas da "crítica marxista do direito" e "direito e gênero".

Diogo Mariano Carvalho Oliveira, Universidade Estadual do Norte do Paraná / Faculdade Estácio de Sá de Ourinhos

Doutorando em Ciência Jurídica pelo Programa de Pós-graduação em Ciência Jurídica da Universidade Estadual do Norte do Paraná - UENP. Bolsista de doutorado (CAPES). Mestre em Ciência Jurídica pelo Programa de Pós-graduação em Ciência Jurídica da Universidade Estadual do Norte do Paraná – UENP. Pós-graduado em Direito Penal e Criminologia pelo Centro Universitário Internacional em convênio com o Instituto de Criminologia e Política Criminal (ICPC). Pós-graduado em Docência e Gestão no Ensino Superior na Universidade Estácio de Sá (UNESA). Bacharel em Direito pela Universidade Estadual do Norte do Paraná - UENP. Coordenador e professor do curso de Direito da Faculdade Estácio de Sá de Ourinhos (FAESO). Advogado. E-mail: diogo.carvalhoadv@hotmail.com.

Citas

ALTHUSSER, Louis. Sobre a reprodução. Trad. Guilherme João de Freitas Teixeira. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.

BAGGENSTOSS, Grazielly A. A subjetividade jurídica e o pacto heterocisnormativo. Revista Eletrônica Direito e Sociedade, Canoas, v. 9, n. 2, 2021, p. 105-119.

BENEDETTI, Marcos. Toda feita: o corpo e o gênero das travestis. Rio de Janeiro: Garamond, 2005.

BENEVIDES, Bruna; ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais). Dossiê: assassinatos e violências contra travestis e transexuais brasileiras em 2022. Brasília: Distrito Drag; Antra, 2023.

BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Trad. Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, p. 38.

COLLING, Leandro. Gênero e sexualidade na atualidade. Salvador: UFBA; Instituto de Humanidades, Artes e Ciências; Superintendência de Educação à Distância, 2018, p. 34.

ELBE, Ingo. Entre Marx, marxismo e marxismos: leituras da teoria de Marx. LavraPalavra, 2021. Disponível em: https://lavrapalavra.com/2021/08/09/entre-marx-marxismo-e-marxismos-leituras-da-teoria-de-marx/. Acesso em 16 dez. 2024.

ENGELS, Friedrich; KAUTSKY, Karl. O socialismo jurídico. 2. ed. Trad. Lívia Cotrim, Márcio Bilharinho Naves. São Paulo: Boitempo, 2012.

FAUSTO, Ruy. Sentidos da dialética: Marx, lógica e política. Tomo I. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.

FERGUSON, Susan; MCNALLY, David. Capital, força de trabalho e relações de gênero: introdução à edição de marxismo e a opressão às mulheres na série historical materialism. In: VOGEL, Lise. Marxismo e a opressão às mulheres: rumo a uma teoria unitária. 1. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2022, p. 55-94.

FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade. 2. ed. Trad. Maria E. Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2010.

FOUCAULT, Michel. História da sexualidade: a vontade de saber. 14. ed. Trad. Maria Thereza C. Albuquerque, J. A. G. Albuquerque. Rio de Janeiro; São Paulo: Paz e Terra, 2022.

HIRSCH, Joachim. Forma política, instituições políticas Estado – I. Crítica Marxista, São Paulo, v. 1, n. 24, p. 9-36, 2007.

JAPPE, Anselm. A sociedade autofágica: capitalismo, desmesura e autodestruição. Trad. Júlio Henriques. Lisboa, Portugal: Antígona, 2019.

KASHIURA JR., Celso Naoto. Crítica da igualdade jurídica: contribuição ao pensamento jurídico marxista. São Paulo: Quartier Latin, 2009.

KULICK, Don. Travesti: prostituição, sexo, gênero e cultura no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2008.

LEITE, Taylisi S. C. Crítica ao feminismo liberal: valor-clivagem e marxismo feminista. São Paulo: Editora Contracorrente, 2020.

LEE, Rosa. Judith Butler’s scientific revolutions: foundations for a Transsexual Marxism in: GLEESON, Jules J; O’ROURKE (eds.). Transgender Marxism. London: Pluto Press, 2021.

LINO E SILVA, Moisés. Minoritarian liberalism. Chicago; London: The University of Chicago Press, 2022.

MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política. Trad. Maria Helena Barreiro Alves. 5. ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2016.

MARX, Karl. Grundrisse: manuscritos econômicos de 1857-1858: esboços da crítica da economia política. Trad. Mário Duayer, Nélio Schneider. São Paulo: Boitempo; Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2011.

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Livro I: o processo de produção do capital. Trad. Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013.

MAZARO, Juliana L.; CARDIN, Valéria S. G. Da tutela jurídica da travestilidade como identidade de gênero. Revista Direito e Liberdade, Natal, v. 21, n. 3, set./dez. 2019, p. 199-219.

NAVES, Márcio Bilharinho. A questão do Direito em Marx. 1. ed. São Paulo: Outras Expressões; Dobra Universitário, 2014.

NETTO, José Paulo. Introdução ao estudo do método de Marx. 1. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2011.

PACHUKANIS, Evguiéni B. Teoria geral do direito e marxismo. Tradução de Paula Vaz de Almeida. 1. ed. São Paulo, Boitempo: 2017.

PALHA, Amanda. Transfeminismo e construção revolucionária. Margem Esquerda, São Paulo, n. 33, jul./dez. 2019, p. 38-44.

POSTONE, Moishe. Tempo, trabalho e dominação social: uma reinterpretação da teoria crítica de Marx. Tradução de Amilton Reis e Paulo Cézar Castanheira. 1. ed. São Paulo: Boitempo, 2014.

PERES, William S. Travestis: corpos nômades, sexualidades múltiplas e direitos políticos. In: SOUZA, Luis A. F. et al. Michel Foucault: sexualidade, corpo e direito. Marília: Oficina Universitária; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011, p. 69-104.

ROSDOLSKY, Roman. Gênese e estrutura de O Capital de Karl Marx. Tradução de César Benjamin. 3ª reimp. Rio de Janeiro: EDUERJ; Contraponto, 2001.

RUBIN, Gayle. The traffic in women: notes of the “political economy” of sex. In: Reiter, Rayna R. Toward an Antrophology of Women. New York; London: Monthly Review Press, 1975.

RUBIN, Isaak. A teoria marxista do valor. Trad. José B. S. Amaral Filho. São Paulo: Editora Polis, 1987.

SALIH, Sara. Judith Butler e a Teoria Queer. Trad. Guacira Lopes Louro. 1. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.

SCHOLZ, Roswitha. O valor é homem: teses sobre a socialização pelo valor e a relação entre os sexos. Novos Estudos, São Paulo, n. 45, jul. 1996.

VOGEL, Lise. Marxismo e a opressão às mulheres: rumo a uma teoria unitária. 1. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2022

Publicado

2025-01-22

Cómo citar

Costa, M. E. A., & Oliveira, D. M. C. (2025). Travestilidade e forma jurídica: contradições e determinações no capitalismo. Revista Hórus, 19(01), 91–111. Recuperado a partir de https://estacio.periodicoscientificos.com.br/index.php/revistahorus/article/view/3587

Número

Sección

Artigos